Monday, May 24, 2010

Momento: a duas vozes (parte XXIII)


 imagem daqui


"Ele

Fiquei à espera de uma resposta de Marylin. Nada. Apenas silêncio. Questionava-me se devia ligar-lhe ou não, mas tal como já compreenderam um dos meus terríveis defeitos era mesmo o de ser orgulhoso. E o meu orgulho estava ferido irremediavalmente. Sentia que tinha feito figura de idiota, e não gostava nada da sensação que isso me provocava.
O tempo foi passando e a vida entrando nos eixos. Um mês sucedeu ao outro. Embrenhei-me no trabalho e na vida que estava a construir para a minha filha. Ambos estávamos em fase de adaptação, o período de aproximação inicial tinha terminado, já conseguia que ela agisse espontâneamente comigo tal como fazia com os avós. Muda-mos de casa, comprei um apartamento maior, com mais conforto para criar a menina. Aos poucos ela foi ficando um dia, mais um dia, até que já ficava a semana inteira comigo. Claro sempre com a presença dos avós, que eu muito apreciava. Pois graças a eles, era-me permitido ainda ter aqueles momentos de liberdade em que saía para beber um copo com os amigos, ou simplesmente me reencontrar a mim mesmo. Sentia muitas saudades de Marylin, embora a angústia que sentira anteriormente aquando a separação se começava a dissipar. Acho que me tinha conformado com o facto de que ela escolhera uma outra vida para ela. E eu só tinha que respeitar.
            Conhecera entretanto uma mulher. Uma outra mulher que demonstrava interesse em mim. Travalhavámos juntos. Saímos algumas vezes, mas nunca se passou nada, éramos apenas boa companhia um para o outro. Eu não estava preparado para abrir a porta do meu coração a alguém tão cedo. Ana olhava-me de soslaio sempre que lhe pedia para ficar com a menina à noite, mas senti-a respirar de alívio quando me via regressar cedo para a vir buscar, sinal de que não passara a noite com alguém. Ana não falava, mas era fiel à Marylin. Acho que no fundo acalentava ainda a ideia de que pudéssemos nos acertar novamente num futuro próximo. O mesmo já não podia dizer de mim. Começava a erguer à minha volta uma barreira que eu sentia fisicamente a crescer de dia para dia. Nada despertava em mim o mínimo prazer. A mínima emoção. A não ser a minha filha. No que a ela dizia respeito eu era um pai super dedicado. Tínhamos a nossa rotina instalada, levava-a ao colégio de manhã, sendo responsabilidade dos avós irem buscá-la ao fim da tarde. Mal terminasse o meu dia de trabalho, ia buscá-la, jantávamos os quatro todos juntos, depois eu e Sofia seguíamos para casa. No inicio foi extremamente difícil nos adaptarmos-nos um ao outro. O criar tarefas e rotinas que nos permitissem estar em sintonia. Os banhos. As birras. O vestir. O despir. Era um sem fim de coisas que eu tinha que fazer antes de me deitar, que assim que o fazia adormecia logo de cansaço. Mas estava a adorar esta nova etapa da minha vida, em que dia após dia aprendia a amar ainda mais a minha filha. "
 
Autoria: Lcarmo (Bela)
 
P.S. Não se esqueçam do desafio que lancei neste post
TEMA: Poesia
Prazo das participações: Todo o mês de Junho
Enviar para : justmepoeticgirl@gmail.com
Resultados serão anunciados a 17 de Julho

Friday, May 21, 2010

Caminho


imagem daqui

"Estou neste cruzamento a que chamam vida. À minha frente vejo uma infinidade de caminhos que se cruzam e descruzam. Pondero qual devo tomar, qual dos caminhos me levará até ti? Avanço céptica, carente da tua ausência, se ao menos me desses um sinal, me indicasses qual o caminho mais curto para poder chegar até ti. Esta incerteza de não saber o caminho a tomar, é sedutora em muitas formas, mas hoje, depois de tantos caminhos que só me afastaram cada vez mais de ti, está aos poucos a perder-se essa ilusão. Já experimentei virar á esquerda, já virei á direita, já segui em frente, já retrocedi. E nem um vislumbre de ti. Imagino teu sorriso, a observar este meu caminho errante, gostas de te fazer de difícil é? Sabes seria tão mais fácil se também tu pusesses pés ao caminho, viesses ao meu encontro. Estou cansada de tomar os caminhos errados, sinto-me desolada quando chego ao fim e não te encontro, ou encontro sósias de ti. Sei que existes, meu coração me diz que sim. Mas porque é tão difícil? Hoje estou aqui prostrada mais uma vez neste cruzamento. Olho para um lado, olho para o outro. Procuro os sinais que me indiquem em que ponto te encontras, tento que a brisa me conduza, espero que o sol ilumine meu caminho. Procuro nos sinais da natureza a indicação do caminho a seguir. O coelho que escolhe o caminho da direita, o passarinho que voa em direcção oposta. Estou confusa nem a natureza é minha aliada nesta minha busca. Hoje apetece-me desistir de te procurar. Faço birra tal e qual uma criança mimada, choro lágrimas de frustração por me sentir cada vez mais longe. Hoje sento-me aqui neste cruzamento, com todos os caminhos em aberto. Hoje pela primeira vez em muito tempo não encontro a firmeza necessária para escolher por onde seguir. Hoje só queria que escolhessem o caminho para mim, não ter que ser eu a tomar a opção errada que mais uma vez me afastará de ti. Mas será que afasta mesmo? Oh incerteza cruel de saber o que nos espera não é? Mas se realmente soubéssemos o que nos espera no fim de cada caminho que traçamos, será que os faríamos com a mesma garra, a mesma vontade? Provavelmente não. A procura pelo caminho que me levará até ti, é a chama que me mantém agarrada a vida, é a força que finca meus pés, diminui o cansaço das minhas pernas quando elas se recusam a andar. Paro, escuto, avanço. Sem medos, Sem reservas. Afastando de mim a vontade de desistir de te procurar, abafando as vozes que me dizem que essa procura não me leva a lugar algum, que o que é meu virá ter comigo. Mas não sei ser paciente. Não sei esperar que chegues até mim. E se não me encontras? E se o teu caminho se desvia do meu, por qualquer casualidade da vida? Não. Tenho que ser eu a desvendar qual o caminho certo a percorrer. qual o ponto da vida em que terei que virar, em que tirei que seguir em frente. Certa de que no fim desse caminho que escolhi estarás tu, de braços abertos, para me acolheres em teus braços, afagar meu cabelo, beijar meus lábios. Sei que vais estar, sinto isso, por isso só te peço, espera por mim, SIM? "


Autoria: Poetic Girl
P.S. Não se esqueçam do desafio que lancei neste post
TEMA: Poesia
Prazo das participações: Todo o mês de Junho
Enviar para : justmepoeticgirl@gmail.com
Resultados serão anunciados a 17 de Julho

Participação especial para o Blog "Caminhos da Camila" sobre o tema "CAMINHOS"

Friday, May 14, 2010

Um desafio


"No meu outro Blog mais generalista está a decorrer neste momento um desafio. Gostaria de convidar os leitores deste cantinho aqui a participar, afinal de contas eu sou a mesma pessoa e serão muito bem-vindos por lá também. Quem estiver interessado em saber mais é só clicar AQUI. 
Fico à espera das vossas participações. O tema é a POESIA  e as participações terão que ser enviadas para o meu email durante o mês de Junho, o vencedor será anunciado em Julho. Bela"

Sunday, May 9, 2010

Momento: a duas vozes (parte XXII)


ELA

"A viagem correu bem. Sem percalços. Consegui dormir, aliás forcei-me a dormir para não ter que travar conversa com o Miguel que se acomodou logo ao meu lado. Quando o avião descolou, da janela vislumbrei o meu belo Porto que deixava para trás, tomei consciência nessa altura que sim que agora era a sério. Eu não estava a sonhar, ia mesmo para Londres, iniciar um novo projecto profissional, projecto esse que sempre desejara mas agora não era a prioridade na minha vida. Encostei minha cabeça na janela, tentei acomodar-me o melhor possível de forma a evitar qualquer contacto físico com Miguel, e adormeci. Quando acordei já estávamos a sobrevoar Londres, o avião iniciava então a descida. Miguel dormia também. Olhei-o de soslaio. Não era um homem feio, longe disso, era um homem até deveras atraente e consciente disso. Aí é que residia o problema de Miguel, era demasiado convencido de si mesmo, pensava que todas as mulheres se renderiam ao seu físico, esquecendo-se que uma mulher precisa muito mais do que o físico para se apaixonar. Houve uma altura na minha vida que também me deixei encantar por ele, me deixei seduzir. Mas paguei caro esse deslize quando me dei conta que não era a única a merecer a sua atenção. Tinha sido uma lição na minha vida, não mais me apaixonar por homens demasiado bonitos. O avião sofreu um ligeiro estremecer, ele abriu os olhos e deu comigo a observá-lo. Fingi olhar para outro lado. - -  -  Chegamos ao nosso destino. - sorriu
Não lhe respondi. Seguiu-se a azáfama habitual que sucede a chegada ao destino. O sair cambaleante, voltar a tocar terra firme, procurar a bagagem, passar pelo check- out, essas coisas que sucedem a um voo. Fizemos todo esse ritual lado a lado. Em silêncio. Ele já me conhecia o suficiente para saber ler em meus gestos, meu rosto, quando eu estava disposta para conversar e quando não estava. E hoje certamente não estava.
Chamamos um Táxi. Ele indicou a morada para onde nos devia levar. Algures perto de Victoria Station se bem me apercebi.
- É aí que vou ficar? - perguntei-lhe
- É um apartamento que a empresa tem aqui para estas urgências. enquanto não arranjarmos outra coisa vamos ficar lá.
- Vamos? - olhei para ele
- Sim vamos. É grande o apartamento. Não te preocupes que o apartamento é grande. E além do mais o mais tardar amanhã vai chegar outro colega de Espanha.
- Pensei que ia ficar sozinha, ter um apartamento só para mim. Não me agrada ter que dividir o meu espaço.
- É algo provisório, até te arranjarmos um sitio para ficar mais perto do escritório.
- Está bem.
Não me agradava a ideia, mas concordei. Estava demasiado cansada para ripostar, para discutir o que quer que fosse. Fui observando a paisagem que se desenrolava conforme o carro abria caminho pela cidade. Era a minha primeira vez em Londres. Sempre sonhara em ir lá, quando jovem sonhava em ir de férias, mais velha fui sonhando em vir para cá trabalhar. Esta cidade com as suas cores cinzentas, com umas pinceladas de sol que se antevia por entre as nuvens exercia um fascínio enorme em mim. Apesar de tudo ia adorar cá estar, ia adorar poder caminhar por aquelas ruas, visitar aqueles locais que apenas conhecia de revistas e livros. Se tinha que fazer isto mais valia mesmo resignar-me. E enfrentar o que estava para vir.
Chegamos ao sitio que ia ser a minha morada nos próximos dias. Miguel tratou de levar as nossas malas enquanto eu olhei mais uma vez para a cidade, começava a escurecer. O sol recolhia-se aos poucos, as cores escuras começavam a tomar conta dos contornos dos edifícios. Subi pelas escadas, não gostava de elevador, e ia saber-me bem uns momentos sozinha sem a presença de Miguel.
Chegamos ao mesmo tempo. Apartamento 6. Entramos. Um hall de entrada espaçoso nos recebia. Procurei logo os quartos. Havia vários, quatro ao todo. Entrei logo no primeiro quarto. Era amplo, acolhedor. Gostei à primeira vista. Corri para a janela e abri a cortina. A minha respiração parou. Adorei as vistas. Daquela janela observava a azáfama da vida que corria lá em baixo. Um vai e vem de carros, de gentes. Sorri contente. Gostei do pormenor da janela, na saliência onde se encaixava a janela estava um pequeno sofá instalado. Imaginei-me logo ali sentada ao fim da tarde a observar a vida lá fora ou simplesmente a ler ou a trabalhar no portátil. Era um bom lugar para me aninhar quando as saudades de casa me consumissem.
- Já instalada? - perguntou Miguel da porta.
Quando dei por mim estava mesmo sentada no sofá. - Sim é este!
- Mas ainda não viste os outros! - riu-se ele
- Não é preciso, é este mesmo que quero!.
- Anda daí ver o resto da casa. - disse-me ele estendendo-me a mão.
Olhei-o desconfiada. Hesitante entre o ir e não ir. Afinal ele era meu chefe tinha que ponderar bem o meu comportamento. Decidi ir, fingi não ver a mão estendida e fui à sua frente.
Fizemos uma pequena visita à casa, quatro quartos todos com casa de banho própria, uma sala comum, uma cozinha, e uma terraço magnifico que tinha uma vista ainda melhor que a minha janela. Sentámo-nos um bocado cá fora. Absorvendo tudo o que nos rodeava. Ao sentar-me um objecto caiu ao chão. Era o telemóvel. Nem me lembrara mais dele. Ainda se encontrava desligado. Liguei-o.
- Vou à cozinha beber água. Queres? - perguntei ao Miguel
- Sim traz para mim também. - pediu-me
Pousei o telemóvel no banco e fui à cozinha.


******************************************

Miguel ficou ali sentado embrenhado nos seus próprios pensamentos. Passou a mão pelo cabelo, estava exausto. Ouviu um sinal de mensagem. Olhou para o telemóvel de Marylin e viu que uma mensagem tinha chegado. Pegou no objecto não cedendo à curiosidade. De quem seria? Do tal do Helder? Não resistindo a um impulso súbito leu a mensagem: "AMO-TE. Esperarei por ti!". Sentiu um aperto dentro do peito. Sentiu-se sufocar. Ouviu os passos dela denunciando que estava a caminho. Sem hesitar apagou a mensagem. Todo e qualquer vestígio daquela mensagem alguma vez ter existido evaporou-se naquele seu gesto egoísta. Ela voltou com os copos na mão. Sentou-se ao seu lado. Ficaram em silêncio. Ele remoendo-se por dentro lamentando o acto mesquinho que acabara de cometer. Ela remetida aos seus próprios pensamentos. Pegou no telefone, viu se tinha sinal de alguma mensagem ou chamada perdida. Suspirou desiludida. Pousou o telefone, acercou-se mais da extremidade do terraço e ali ficou por tempo indeterminado a olhar o horizonte. Miguel sentindo-se mal consigo mesmo retirou-se. Sem uma palavra. Sem confessar o que fez."

Autoria: Lcarmo (Bela)

Monday, May 3, 2010

O pulsar da Paixão


 imagem daqui

"Estava apaixonada. Sentia em todo o seu ser o pulsar da paixão. O seu olhar brilhava, as faces de tom rosado denunciavam um olhar recheado de segredos, de confidências, de mistério. A sua alegria espontânea e singela despertava a curiosidade de quem a rodeava. Como sorria? Como encontrava forças para afogar as suas mágoas e continuar sorrindo. As pessoas não entendiam. Ela mesma não entendia. A paixão essa brotava a cada dia que passava, fortalecendo-a. Caminhava segura de si, sorrindo a quem passava, cumprimentando com um ligeiro acenar de cabeça ou um olá esfuziante. Sentia o olhar dos outros sobre si, alguns de condenação, outros de admiração, alguns até de inveja. Mas ela ignorava isso tudo. Estava apaixonada. E como isso era bom! Andara cega, construíra muros. Quisera a todo o custo proteger o seu coração de amar os outros, de ser amada em retorno. Mas estava enganada. Ninguém pode escolher não sentir mais, não amar mais. È um acto involuntário, algo que invade nossa alma, toma conta do nosso ser. Pé ante Pé a paixão entrou em sua vida. Silenciosa, entreabriu a porta que ela fechara, com cuidado, certa de que não poderia entrar de rompante. A paixão tomou a forma do sol, das flores que emanavam um perfume sedutor quando caminhava pelos jardins, dos sons que invadiam o seu ser, dos toques fugazes, dos sorrisos rasgados. Entrou assim de forma invisível, seduzindo-a, mostrando-lhe o belo que era viver e estar viva. Pintou de cores coloridas as paisagens por onde ela passava, o chão esse tornava-se mais límpido á sua passagem. Aos poucos foi tomando consciência da beleza que a rodeava, foi despindo as vestes negras que lhe tolhiam a alma de cores mais leves. O vento que outrora a fazia encolher de frio, era agora uma ligeira brisa que a envolvia num abraço apertado. Encontrou nos prazeres antes relegados para segundos e terceiros planos a essência que a fazia querer amar mais e mais. A sua aura antes escura e triste, era agora brilhante, capaz de ofuscar quem olhasse para ela minuciosamente. Cantava. Dançava. Coisas que nunca antes tinha feito. A felicidade que brotava da sua alma, escorria -lhe por entre sorrisos e afagos. Gostava de toques. Gostava de sentir a presença dos outros, dos seus dedos percorrerem vorazes os corpos dos outros, gostava de sentir a textura que os seus dedos teciam nas peles, o suave roçar das mãos das pessoas. Sim estava apaixonada. Por quem perguntam vocês? Estava apaixonada pela vida que voltara a reconquistar, estava apaixonada por todos os segundos, minutos, horas, que lhe era permitido viver. Até quando? Não queria saber, queria apenas manter a sua alma aberta ás sensações, à plenitude dos sentimentos. Estava acima de tudo apaixonada por si mesma. E isso dava-lhe uma confiança nunca antes sentida."


Autoria: Lcarmo (Bela)
Tema: PAIXÃO

Sunday, May 2, 2010

Momento: a duas vozes (parte XXI)


ELE


Chamei nomes a mim mesmo. Puxei os cabelos de tanta raiva contida. Porque simplesmente me acorvadei? Regressei a casa em transe. Não fui buscar a minha filha, não liguei à Ana, nada. Aquele silêncio em casa matava-me lentamente. Atirei-me para a cama, escondi meu rosto no travesseiro. Senti-me um palhaço, actor num circo qualquer, que as pessoas iriam se rir das atitudes tristes. O orgulho é a pior arma num homem não é? Por orgulho já se matou, já se perderam amores, vidas destruídas. E eu tinha sido orgulhoso. Ciumento. O Oposto do que sempre julguei ser. Não me reconheci. O Helder de antigamente nunca se deixaria intimidar por um outro qualquer. O Helder de antigamente teria ido falar com ela, abraçá-la, beijá-la, não se importando com quem estivesse presentes. Onde estava esse Helder agora? O meu olhar pousou no candeeiro do quarto. Quantas vezes não estivemos deitados naquela mesma posição, em conversas que duravam a noite toda? Tinha sido naquela cama a nossa primeira noite de amor, a noite que lhe prometi que tomaria conta dela para todo o sempre. Ali jurámos juras de amor, trocámos caricias, exploramos nossos corpos nunca saciados da presença um do outro? Levantei-me zangado, desfiz em segundos a cama, arranquei os lençóis que ainda tinham o cheiro do seu corpo. Prostrei-me no chão. Pequeno. Magoado. Algo chamou a minha atenção. No chão por baixo da minha almofada um papel. Era uma carta. Dela. Meu coração quase parou. Mesmo longe não parava de me surpreender. Desdobrei o papel, nervoso, as minhas tremendo. E li:

"Helder,

Se estás a ler esta carta é sinal de que estarei a km de distância de ti. Quis o destino, a vida, ou quisemos nós que isto acontecesse. Não penses de forma alguma que terá sido algo premeditado, não o foi. Fiquei tão surpresa quanto tu com o curso que a minha vida tomou. Não te peço que esperes por mim, nunca me atreveria. Lamento que não me tenhas deixado explicar, partilhar contigo uma parte de mim que ainda não me tinha atrevido a contar-te. Não espero que me perdoes. Já o deveria ter feito quando partilhas-te a tua vida comigo, a história de Mariana, a existência de Sofia. Esperei sempre pelo momento certo, por aquele momento em que pudesse realmente abrir o meu coração contigo. Tentei, juro que tentei. Tantas vezes. Mas nunca senti as forças necessárias para o fazer, não porque não confiasse em ti, mas porque não era algo bonito de contar. Todos temos fantasmas que nos atormentam. Os meus são bem reais. Nunca te questionas-te o facto de ser uma pessoa tão isolada, tão difícil de conquistar a confiança? isso não nasceu comigo, foi algo que a vida me obrigou a desenvolver. Não espero que agora a nossa vida retome o ponto de partida em que estavámos, porque temo que tenhamos avançado o ponto do não retorno. Encontrei em ti e em Sofia a família que nunca tive, sonhei para nós sonhos que agora me parece que nunca tive direito a sonhá-los. Esta não é uma carta de despedida, é apenas um até já, caso o destino tenha reservado para nós um encontro no futuro. Espero que sim, não depende dele apenas, depende de ti e de mim. Qualquer que seja a tua escolha, respeitá-la-ei. Amo-te demasiado para não permitir que sejas feliz. Amor é desejarmos a felicidade de alguém, mesmo que seja longe de nós. Se tiveres que ser feliz sem mim, eu tentarei ser feliz sem ti. Espero ver-te em breve,


Marylin"


Por momentos deixei-me estar ali sentado no chão, segurando a carta na mão. Li e reli-a sem conta. Peguei no telemóvel e escrevi uma mensagem. Uma palavra apenas bastava. "AMO-TE. Esperarei por ti!"

Autoria: Lcarmo (Bela)

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