Wednesday, May 4, 2011

As tranças

A menina sentada no banquinho de madeira esperava impaciente que a senhora lhe penteasse os longos cabelos. Aquele ritual diário era a delicia da pequena petiz. Ansiosamente esperava por sentir o toque das mãos nos seus cabelos desfazendo os nós que teimavam em aparecer. A senhora gostava muito de tranças, todo o género de tranças e a menina gostava que ela gostasse de lhe fazer as tranças. A cumplicidade daqueles momentos era exclusivamente delas, e a menina deliciava-se com isso, chegando a esquecer que aquela não era a "sua família", que tinha outro pai, outra mãe, outra vida para além daquela.... Era o único momento do dia em que a atenção da senhora recaía exclusivamente sobre si e não teria que a dividir com o seu primo travesso que andava sempre por ali.
O riso do menino ecoava pela casa toda, mostrando impaciência perante o facto de a menina perder tanto tempo "com coisas de menina".
A casa transbordava de risos e correrias, tarefa esgotante essa de controlar dois pequenos seres ávidos de aventuras e loucuras. Com mãos firmes, sorriso afável, fazia a delicia da petizada e o seu lugar no coração de ambos ficaria cravado para todo o sempre.

Ser-se mãe é dedicar-se um amor incondicional mesmo que não tenham sido gerados no seu ventre. Aquela menina do banco de madeira e das tranças negras  era eu e tive duas mães e uma delas acabou de me deixar... 

E continuo a gostar de tranças e que me toquem no cabelo.... 

Autoria: Lcarmo (Bela)
Desafio Fábrica de Letras
Tema: Mãe