"Ao colocar a chave na porta estremeceu ligeiramente. Entreabriu-a , ficou a olhar o corredor escuro. Estava relutante em acender a luz, tacteou no escuro com receio de tropeçar em alguma coisa. Sentia-se apreensiva, o receio que lhe ocupara a mente o dia todo parecera ter-se realizado. Caminhou em direcção ao quarto, procurou o interruptor, ligando a luz ficou a contemplar o quarto. A cama ainda se encontrava por fazer, as almofadas jogadas no chão. Esperava encontrá-lo à espera dela, mas ele não estava.
A discussão de ontem ainda lhe latejava nos ouvidos, a cena ainda decorria perante o seu olhar. Ela a chorar, ele a agarrá-la pelos ombros abanando-a, querendo à força que ela parasse o choro. Mas ela não conseguira, ele atirara-a para a cama, dissera-lhe coisas horríveis. E mais uma vez ela ouvira e calara. Despiu o casaco, descalçou os sapatos e deitou-se na cama em posição fetal. Sentiu o cheiro da mistura do seu perfume e o suor de ambos impregnado nos lençóis. Escondeu a cara na almofada para absorver o cheiro uma vez mais. Deixou-se estar ali à espera de ouvir a chave na porta. Já eram horas de ele estar em casa. Teria acontecido alguma coisa? A apreensão tomou conta de si, num impulso procurou o telefone para lhe perguntar onde estava. Tocou, tocou, tocou e ele não atendeu. Seu olhar percorreu os objectos espalhados pelas mesas do quarto, pelo chão. Algo chamou a sua atenção. Levantou-se em direcção à cómoda. Estranhou a falta de alguns objectos. Tinha a certeza que a cómoda tinha mais objectos, ela no seu modo de ser cuidado, certeiro arranjara os objectos pessoais de cada um de forma a que não se misturassem. Neste momento alinhados em cima do tampo da cómoda apenas se encontravam os seus. Um grito abafado a percorreu. Correu para o guarda-fatos abrindo-o de par em par.
Seu olhar constatou o seu pior receio, as roupas dele não mais se encontravam ali. Espreitou debaixo da cama procurando a mala que lhe oferecera, também ela já não estava mais onde era suposto estar. Sentou-se na cama sem forças para reagir, ficou a olhar o guarda - fatos que estava vazio dos objectos dele. Nada ficara. Seu coração pesou-lhe dentro do peito. Também seu coração se esvaziara. Agora para além de um guarda-fatos vazio, ela estava vazia do amor dele. Covardemente ele saíra da vida dela, sem uma despedida, sem uma palavra de conforto. Ela nunca lhe pediria para ficar. Nunca. A relação chegara ao ponto do não retorno, ela sabia, ela sentira na sua pele na última vez que fizeram amor. O elo quebrara-se, o companheirismo cedera lugar às discussões, às acusações mudas, aos carinhos que não mais trocavam.
Seu coração estava agora mais leve, vazio,mas leve. Enxugando as lágrimas levantou-se, olhou uma vez mais o guarda-fatos vazio. Procurou debaixo da cama a sua mala onde guardara alguma roupa sua para arranjar lugar para a roupa dele. Abriu-a. Em questão de minutos voltou a encher o guarda-fatos mas desta vez apenas com a sua roupa. "Se fosse tão fácil voltar a encher o meu coração como voltei a encher este guarda-fatos" pensou. E sentiu um calor a aflorar-lhe a pele, um sorriso tímido brindou-a. Sim seria capaz de o fazer. E estando disposta a isso, sentiu seu coração se encher de esperança.
Não ia ser fácil, mas entre um guarda-fatos vazio ou um coração vazio, ela preferia ter o guarda-fatos e a cama vazia. "
A discussão de ontem ainda lhe latejava nos ouvidos, a cena ainda decorria perante o seu olhar. Ela a chorar, ele a agarrá-la pelos ombros abanando-a, querendo à força que ela parasse o choro. Mas ela não conseguira, ele atirara-a para a cama, dissera-lhe coisas horríveis. E mais uma vez ela ouvira e calara. Despiu o casaco, descalçou os sapatos e deitou-se na cama em posição fetal. Sentiu o cheiro da mistura do seu perfume e o suor de ambos impregnado nos lençóis. Escondeu a cara na almofada para absorver o cheiro uma vez mais. Deixou-se estar ali à espera de ouvir a chave na porta. Já eram horas de ele estar em casa. Teria acontecido alguma coisa? A apreensão tomou conta de si, num impulso procurou o telefone para lhe perguntar onde estava. Tocou, tocou, tocou e ele não atendeu. Seu olhar percorreu os objectos espalhados pelas mesas do quarto, pelo chão. Algo chamou a sua atenção. Levantou-se em direcção à cómoda. Estranhou a falta de alguns objectos. Tinha a certeza que a cómoda tinha mais objectos, ela no seu modo de ser cuidado, certeiro arranjara os objectos pessoais de cada um de forma a que não se misturassem. Neste momento alinhados em cima do tampo da cómoda apenas se encontravam os seus. Um grito abafado a percorreu. Correu para o guarda-fatos abrindo-o de par em par.
Seu olhar constatou o seu pior receio, as roupas dele não mais se encontravam ali. Espreitou debaixo da cama procurando a mala que lhe oferecera, também ela já não estava mais onde era suposto estar. Sentou-se na cama sem forças para reagir, ficou a olhar o guarda - fatos que estava vazio dos objectos dele. Nada ficara. Seu coração pesou-lhe dentro do peito. Também seu coração se esvaziara. Agora para além de um guarda-fatos vazio, ela estava vazia do amor dele. Covardemente ele saíra da vida dela, sem uma despedida, sem uma palavra de conforto. Ela nunca lhe pediria para ficar. Nunca. A relação chegara ao ponto do não retorno, ela sabia, ela sentira na sua pele na última vez que fizeram amor. O elo quebrara-se, o companheirismo cedera lugar às discussões, às acusações mudas, aos carinhos que não mais trocavam.
Seu coração estava agora mais leve, vazio,mas leve. Enxugando as lágrimas levantou-se, olhou uma vez mais o guarda-fatos vazio. Procurou debaixo da cama a sua mala onde guardara alguma roupa sua para arranjar lugar para a roupa dele. Abriu-a. Em questão de minutos voltou a encher o guarda-fatos mas desta vez apenas com a sua roupa. "Se fosse tão fácil voltar a encher o meu coração como voltei a encher este guarda-fatos" pensou. E sentiu um calor a aflorar-lhe a pele, um sorriso tímido brindou-a. Sim seria capaz de o fazer. E estando disposta a isso, sentiu seu coração se encher de esperança.
Não ia ser fácil, mas entre um guarda-fatos vazio ou um coração vazio, ela preferia ter o guarda-fatos e a cama vazia. "
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P.S. Não se esqueçam do desafio que lancei neste post
TEMA: Poesia
Prazo das participações: Todo o mês de Junho
Enviar para : justmepoeticgirl@gmail.com
Resultados serão anunciados a 17 de Julho
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TEMA: Poesia
Prazo das participações: Todo o mês de Junho
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41 comments:
LIndo e comovente.Escolha acertada entre os vazios...beijos,chica
Poetic,
a nossa heroína descobriu bem a tempo um modo de solucionar o seu vazio. Ótima escolha.
O tratamento é doloroso, mas há quem consiga bons resultados...
Gostei especialmente da reviravolta no olhar da protagonista.
Texto envolvente; irônico; inteligente.
Beijos.
Ricardo.
As relações nem sempre são fáceis e muito mais difíceis são as decisões firmes que nos propomos a aceitar.
Depois de ler a história toda, concordo com a decisão dela!
bjs
adorei... bom seria que mais pessoas conseguissem pensar assim, verdade? beijinhos...
Gostei da maneira decidida como ela encarou a questão..afinal de contas ele provavelmente não merecia mais que isso.
Beijinho
Chica: Obrigada. Quando comecei a escrever estava completamente em branco em relação a este tema, mas lá consegui contar uma história. bjs
Ricardo: Obrigada pela tua opinião, é sempre bom termos feedback do que escrevemos... bjs
MZ: É também me parece que tomou a atitude correcta. bjs
Caminhante: Se mais pessoas pensassem assim evitavasse bastante sofrimento acredita. Principalmente porque as pessoas têm que aceitar que um dia tudo acaba! bjs
Mel de Vespas: Não não merecia. Por isso mesmo doendo ela voltou a encher o guarda-fatos vazio com ela mesma! bjs
O vazio dói ao princípio mas significa que pode voltar a ser cheio de coisas novas e melhores, é uma nova página:)
Adorei o texto, escreve muito bem parabéns:)
momentos cheio de vazio - enchido!
abraço terno
É UMA HISTÓRIA COMO MUITAS QUE SUCEDEM POR AÍ...UMA RELAÇÃO QUE CHEGOU AO FIM... NÃO HAVIA MAIS NADA...SE O CORAÇÃO NÃO SENTE A FALTA DE NADA...TAMBÉM NÃO SOFRE A PERDA...SÓ QUE ELE EFECTIVAMENTE SAIU DE FORMA COVARDE...POR UMA QUESTÃO DE RESPEITO,DE EDUCAÇÃO...PODIA TER DITO ADEUS...DESSA FORMA É BOM QUE VÁ E NEM VOLTE ...PESSOAS ASSIM NÃO FAZEM FALTA...
PROVAVELMENTE NESTA SITUAÇÃO ATÉ NEM SERÁ TÃO DIFÍCIL VOLTAR A PREENCHER O LUGAR....
BOM CONTO...VALEU LER
Belo conto, intenso e emocionante. O meu coração ficou apertado e angustiado, mas acalmou tal como a personagem do teu conto. Fantástico conto, maravilhosa forma de escrita e inquietos sentimentos, virei fã.
Beijinhos doces, Ava.
Chokkie: Obrigada!
Paradoxos: Bem vindo! obrigada
Pedras Nuas: Sim é um assunto infelizmente mais comum do que se pensa! bjs
Descreveste um tipo de relação que conheci em alguns casais meus amigos. Foquei satisfeito pelo cafajeste ter ido embora e ela ter levantado, sacudido a poeira e dado a volta por cima!
Parabéns Poetic Girl:
primeiro, porque foste a primeira a participar neste desafio;
segundo, por teres criado uma bela história que retrata tão bem as relações de casais que se separam;
terceiro, por a protagonista ter sabido ser madura e racional e não uma vítima. Soubeste elevá-la a heroína;
quarto, pela correcção linguística, por vezes poética (ao contrário do que outros te disseram antes).
És uma vencedora nata.
Beijinhos
catsone: É infelizmente o exemplo que dei é mais comum do que se pensa! bjs
Natália: Obrigada. Tenho sido mais cuidadosa também e agradeço-te a ajuda que me deste! beijocas
Ás vezes são os momentos de vazio, que nos despertam para a vida que apenas passa por nós. Ela conseguiu preencher esse vazio, ao encher um armário cheio de esperança e de auto-estima. Muito bom!
Beijinho :)
De cabeça levantada... Brilhante reviravolta... Também fiz uma reviravolta dessas... mas demorei muito mais tempo!
Afinal, todos nós temos o nosso tempo, não é? Hoje, de cabeça levantada, tenho o guarda-fatos a rebentar pelas costuras, a cama cheia de sonhos e o coração? Ah esse está preenchido de amor materno, amizade verdadeira e esperança!
Facto de vida real que me fez regressar ao passado sem mágoa. Obrigada.
Beijinho**
Não é fácil tomar a decisão que ela optou por tomar.
Gostei da forma como inicialmente ela era uma vitima, mas no final terminou com heroína.
Excelente participação... como sempre aliás ;)
Também devia ser uma mulher complicada, digo eu... e às vezes até é melhor este tipo de fim... fica o ódio, fica o vazio, mas resolve-se logo tudo.
Poetic a exposiçao é mesmo ao lado do mosteiro dos jeronimos...está da parte de fora...:)e é mesmo mt bonita:)
beijinho da lila*
Às vezes há males que vêm por bem. Esta parece ser uma dessas vezes.
Muito bem narrado, Poetic. ;)
*
Bom dia
Como deves ter reparado, um dos membros do staff fez um comentário no teu texto esquecendo-se de fazer log out da conta da Fábrica.
Pedimos desculpa pelo sucedido. Mas tentar que não se repita, mas andar a entrar e a sair de contas às vezes torna-se muito confuso.
Um abraço
Belo texto por trás da tristeza e vazio vivido. No final uma réstia de esperança, de mudança. Excelente participação.
Beijo, Maria
podes.me esclarecer sobre o desafio que lanças.te por favor ? :)
Helga: Não é fácil conseguir-se isso, ainda bem que ela o fez, eu já fui também. bjs
Lala: Acho que este exemplo que dei acaba por ser mais comum do que se pensa... bjs
Louise: Todos temos um pouco de heróis e heroínas, por vezes não queremos é ver... bjs
Johny: complicada não sei, mas talvez amargurada! bjs
Ginger: Exacto há males que vêm por bem. bjs
Fábrica: Não há problema algum! beijocas
Maria: Obrigada, tem que haver sempre esperança! bjs
Wilde: Claro! Tens que escrever um texto, poema ou imagem sobre o tema poesia até final do mês. A tua participação será depois publicada no meu blogue para os leitores votarem. As 5 melhores participações serão as escolhidas para de entre todas eu escolher a melhor. Quem ganhar vai receber um presente surpresa! Qualquer duvida estou ao dispôr, bjs
Pois, nunca é fácil.
Bela que queres que diga? Tens um dom para a escrita e aqui a protagonista tomou a decisão certa. Beijinhos
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