Sunday, April 11, 2010

Momento: a duas vozes (parte XIX)


ELE


"Deambulei sem destino por uma data de horas. Estava literalmente perdido, desnorteado. Estava a ser cobarde e sabia-o. Estava a empurrar literalmente Marylin para fora da minha vida. Era mesmo isso que eu queria? Não seria preferível tê-la, nem que fosse por algum tempo ausente, do que não tê-la de todo? O telefone tocou. Era Ana. Atendi.

- Sim Ana.

- Onde estás? - onde estava eu? olhei à minha volta, estava sentado num banco de jardim no centro da cidade. Nem me dei conta de como lá fui parar. Não tinha memória sequer de ter pegado no carro.

- Estou no centro - respondi-lhe

- Não achas que devias fazer alguma coisa em relação a Marylin? - perguntou-me. Devia não devia? Então porque não o fazia?

- Ana eu preferia não discutir esse assunto.

- Ela esteve aqui Hélder, ela está desesperada com esta tua atitude. Quer-me parecer que não é uma atitude de homem, se me permites a franqueza. Ela não cometeu nenhum crime para a tratares assim, se lhe deres oportunidade de justificar os seus motivos de certeza que verias as coisas com outros olhos.

- Eu já disse que não quero falar nesse assunto - respondi áspero.

- Tu é que sabes. A vida é tua, o amor é teu, a dor será tua. Só telefonei para te avisar que o voo dela é ao fim da tarde, às 18:30 se quiseres remediar a situação, faz-te ao caminho. Faz o que é certo tu fazeres. Não vou dar conselhos porque já és homem suficiente para saberes o que queres. Mas para que fique claro não concordo com a tua postura.

- Ana prefiro que não se meta nesse assunto.

Desliguei o telefone. Estava farto que me dissessem o que devia ou não devia fazer. Eu é que sabia da minha vida, da minha dor. Olhei para o relógio. Passava pouco das 16. Se me apressasse poderia chegar a tempo de me despedir dela, ou de não a deixar partir. O meu coração começou a bater mais rápido perante essas possibilidades. Ir ou não ir? Se fosse poderia ao menos vê-la mais uma vez, dar-lhe um último beijo até ao próximo reencontro. Era tão fácil eu pegar no carro e ir até lá. Surpreendê-la. Dizer-lhe que a amava, que esperaria por ela. E eu sabia que no fundo esperaria o tempo que fosse necessário. Era a mulher que eu amava, mais nenhuma conseguiria me fazer sentir o que sentia novamente. Levantei-me e caminhei apressado para o carro. Afinal sempre sabia onde o tinha estacionado. Senti-me nervoso, ansioso, mas feliz por ter tomado essa decisão. Olhei para o relógio. Ainda dava tempo, não dava? Com estes pensamentos na cabeça fiz-me à auto-estrada. Não me lembro do caminho, apenas me lembro da velocidade a que ia. Se estivesse algum carro-patrulha algures escondido provavelmente iria me dar mal. Mas naqueles minutos nada disso me importou. Queria vê-la, beijá-la, dizer-lhe que a amava. Que tudo ia ficar bem, que iria visitá-la quantas vezes fosse necessário. Ela mais do que nunca precisava do meu apoio, e eu já não conseguia viver sem essa mulher. Cheguei ao aeroporto em menos de meia hora. Corri para a zona do check in. Meu olhar percorreu todos os rostos que ali estavam. E não eram poucos. Procurava o meu rosto, aquele rosto tão familiar que conhecia os contornos com infímo pormenor, aqueles olhos onde me perdia, aquela boca da qual nunca ficava saciado. Não a via. Uma desolação se apoderou de mim. Teria percebido mal as horas? Seria tarde demais? Quem me visse devia pensar que eu seria um lunático que corria a zona de um lado ao outro. E eu estava realmente fora de mim. De repente via-a. De costas para mim. Corri para lá. Abracei-a. Virei-a para mim. Surpreso larguei a pessoa que abraçava. Não era ela. Balbuciei um desculpe e afastei-me envergonhado. Senti-me desolado. Com os ombros encolhidos pelo desânimo decidi me vir embora. Era tarde demais. Caminhava para a saída, aliás já estava praticamente na saída quando o meu olhar pousou numa zona de cadeiras onde se encontravam pessoas sentadas. Reconhecia-a de imediato. Sentada com um livro no colo lia atentamente. Havia algo de tão belo naquela imagem que me controlei para não chorar. Seu cabelo caía em cachos. Folheava o livro com cuidado, tão característico nela. Estava completamente ausente, longe do que a rodeava, provavelmente sua mente num mundo apenas dela, e da história que lia. Senti-me invadir uma felicidade sem tamanho. Caminhei em sua direcção. Iria poder dizer-lhe o que estava preso na minha garganta. Um vulto se aproximou dela, tocou-lhe ao de leve no ombro. Reconheci de imediato esse vulto. Ela mostrou um ar surpreso, até ligeiramente desiludido. Eu parei. Parei ali naquele limiar entre o ir e não ir. A felicidade de há momentos esfumara-se. Olhei mais uma vez para a mulher que amava, tão perto e tão longe. Virei as costas e vim-me embora. "

Autoria: Lcarmo (Bela)
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7 comments:

Ana said...

ooohhh =( ele vai tr k ir tr c ela a londres ou ela desist da viagem..=)
a historia está cd vez mais interessante!=)
continua...=D
bjinho***

Poetic Girl said...

Ana: Ainda está tudo em aberto, vamos ver... bjs

Libelinha☆ said...

Eu não acredito que ele não foi ter com ela... Que desistiu perante a presença de alguém!

Muito bom mesmo!... Venha o próximo "capitulo"!...

Beijinhos ;P

Poetic Girl said...

Libelinha: É não foi... :) próxima semana há mais... bjs

Brown Eyes said...

ÓH Não me digas que ela vai apanhar o avião? Se calhar...
Beijinhos

Poetic Girl said...

Brown Eyes: Acho que sim! Que ela vai mesmo! bjs

PoesiaMGD: Obrgada, vou lá passar!

Natália Augusto said...

Que cobarde! Isso não é de um homem, é de um miúdo mimado! Mas pode ser que tudo se resolva.

:)