Monday, January 25, 2010

Momento: a duas vozes (Parte X)


ELA

O dia aproximava-se rapidamente. Passei a semana completamente eufórica perante a perspectiva do fim de semana que se aproximava. Tal era o meu estado de ansiedade que acabei descurando o lado profissional, acabando mesmo por ser chamada á atenção pelo chefe. Com razão claro. Decidi então acalmar os ânimos e concentrar-me nas minhas funções. A passo e passo sexta feira ia chegando.
Na sexta fomos então buscar Sofia. O meu coração quase que saía pela boca, batia descompassado. Helder ria-se de mim. "Estás a rir-te de mim?" - perguntei eu.
- Se visses o teu reflexo num espelho também ias sorrir. Pareces uma adolescente a quem prometeram um presente... ora róis as unhas, ora colocas o cabelo por detrás das orelhas, ora tiras o cabelo... sossega... é só uma menina...
- Não é uma menina qualquer - retorqui - é a tua menina...
Segurou -me a mão enquanto conduzia pela cidade. Tráfego de sexta feira á noite era sempre caótico. Os pais de Mariana viviam na periferia. numa pequena aldeia, a 5 km da cidade. Nunca uma viagem me pareceu tão longa. Ainda por cima tivemos que voltar para trás para buscar a cadeirinha que o Helder tinha guardada na garagem, com a pressa de sairmos esquecemo-nos completamente. Ele parecia bastante calmo. Acho que nós mulheres temos tendência para viver as coisas mais emocionalmente que os homens. Se receava o encontro iminente nada se fazia notar no seu comportamento. Olhei-o de soslaio. O seu perfil era tão bonito, seus traços serenos. Dei comigo a divagar nos pensamentos. Se me tivessem dito que encontraria algum homem que me completasse tanto quando ele me completava não teria acreditado. Sempre fui muito céptica nestas questões do amor. Mas o amor também não tinha sido bom para mim, só me tinha trazido sofrimento. Ouvi de repente uma gargalhada que me assustou.
- Que susto! - balbuciei eu corando
- Dava tudo para saber em que pensas...
- Não estava a pensar em nada de especial...
- Será que não?
- Não não. - e desviei o olhar para o outro lado. Havia alturas em que me sentia um bocado embaraçada na sua presença.
Chegamos ao destino. Ele estacionou o carro em frente à casa. Era uma casa grande, com um jardim igualmente enorme. Bonito lugar para criar uma criança pensei. Helder saiu do carro, eu não sabia muito bem que fazer, deixei-me estar. Ele bateu no vidro.
- Não vens? - perguntou.
Hesitei. Ir ou não ir. Decidi por ir. Corri atrás dele para o conseguir apanhar. Tocamos á campainha. Aguardamos alguns minutos para que alguém viesse abrir a porta. Do outro lado da porta estava um senhor que aparentava não ter mais do que 50 anos. Cabelo ligeiramente grisalho, uns olhos claros, que contrastavam com a camisa que trazia vestida.
- Olá Helder entra. A Ana está a terminar de arranjar a menina.
Indicou - nos para o seguirmos até á sala. Eu senti que estava a ser alvo da curiosidade. Desviei o olhar pois estava a sentir - me bastante incomodada. Eles conversavam entre si, conversas tipicamente cordiais, daquelas que se tem para entreter o tempo. Observei a sala em meu redor, decorada com um extremo bom gosto, cores suaves, claras. O meu olhar perdeu - se por completo nas imensas prateleiras cheias de livros. Quis tocá-los. Sempre tive um fascínio enorme por livros. Quando dei por mim estava muito próxima de umas das prateleiras, não resistindo a ler os títulos das obras,
- Gosta de ler? - ouvi uma voz atrás de mim
- Sim gosto muito. - Respondi corando ligeiramente
- A minha filha também gostava. Esses livros eram todos dela. - o seu olhar escureceu por momentos e eu enterneci-me pela dor daquele pai que tinha perdido a sua filha. O silêncio pesava, eu ali me encontrava sem saber muito bem o que dizer.
- A sua neta irá encontrar neles um bocadinho da mãe.
- Ela já é tão parecida com a mãe! Sim espero que tenha herdado isso da mãe, e não seja ali como o Helder que não gosta nada de livros...
Rimo-nos os três. Desanuviou um bocado o ambiente.
Ouvimos um barulho de passos pequeninos...
- Olha quem aqui está, a princesa!
Na porta sala, pela mão da sua avó encontrava-se Sofia. A bebé sorriu quando reconheceu o seu pai. A emoção era demasiada para mim. Uma lágrima escorreu por minha face, lágrima essa que tratei logo de esconder. Sofia era pequenina, reconchuchuda como todos os bebés. Um rosto redondo, onde se salientava uns olhos pretos, grandes. Seu cabelo cacheado moldava - lhe o rostinho.
- Papá! - disse enquanto se agarrava ao Helder.
Foi emocionante assistir a este momento. Senti o olhar de alguém pousado em mim. Ergui o olhar, encontrei do outro lado uns olhos frios, distantes que me mediam atentamente. Sabem aquela sensação de que estamos a ser avaliados? Da ponta do cabelo á ponta dos pés. Aquele olhar arrepiou -me, era frio, desprovido de emoção. Não tem nada cara de avó, pensei. A minha ideia de avó era de uma senhora de rosto afável. cabelinho cinzento, olhar terno. Esta avó mais parecia saída de um catálogo de moda. A menina estava muito bem estimada. A roupa era bem cuidada, demonstrando que dinheiro ali não deveria ser problema.
- Olá Helder, estou a ver que trouxeste companhia. Não me vais apresentar a tua amiga?
Helder olhou para mim, depois para Ana. A menina já se encontrava nos seus braços.
- Não é minha amiga - respondeu ele - É a minha namorada.
O silêncio caiu como uma cortina sobre nós. Ali estávamos quatro adultos e uma criança. A menina olhava-nos a todos curiosa, principalmente observava-me. Sorriu. Sorri de volta. Quis se soltar do colo do pai, Helder pousou-a no chão e ela veio a correr para os meus braços. Senti aquele corpinho pequeno junto a mim, o meu instinto me dizia para agarrar na menina e fugir para bem longe daquele ambiente pesado.
- E tu dizes - me isso com o ar mais natural do mundo? - perguntou Ana, a sua face corando de fúria
- Como queria que lhe dissesse? - retorquiu o Helder enquanto que pegava no saco da menina - Ana, com todo o respeito esse comportamento não é próprio.
- Não é próprio? A minha filha mal se foi e tu já arranjas-te outra? Era esse o amor que lhe tinhas?
- Ana chega - implorou o Pedro - Este não é o lugar nem o momento para essas discussões. Deixa - os ir.
- Não a minha neta não vai a lugar nenhum! - ameaçou enquanto arrancava o saco das mãos de Pedro.
- Ana, por favor, não está a ser razoável. A vida continua. A Mariana partiu, com muita dor minha, mas eu e a minha filha temos direito a reconstrui a nossa vida. Sem Mariana.
- Até podes reconstruir a tua vida da forma que quiseres, como quiseres. Mas a minha neta não sai daqui!
Pedro caminhou em direcção á esposa. Ela tremia descontrolada. Eu segurava a menina nos meus braços, que começou a chorar com a gritaria. Encostei-a a mim.
- Shhh, está tudo bem querida. Shhhh sossega - ia -lhe dando palmadinhas nas costas
Saíram ambos da sala, Pedro conseguiu arrastar a sua mulher consigo. Helder aproximou-se de nós, abraçou-nos às duas, seus lábios tocaram a face rosada de Sofia e a seguir a minha.
- Isto não vai ser fácil - disse - me. Aquiesci, era o inicio de uma batalha, em que só uma das partes poderia sair vencedora. Encostei a menina mais a mim. Pegamos nas coisas e saímos. Com o coração apertado, mas saímos.

Sunday, January 24, 2010

A porta encostada



"A porta encontra-se encostada. Do lado de fora vislumbra-se uma frincha de luz quase imperceptível mas vê-se, se prestarem atenção vê-se. As pessoas caminham apressadas concentradas na sua própria vida, caminham com passo decidido. De vez em quando há uma ou outra que se sente curiosa em relação á porta entreaberta. Param. Olham. Escutam. Encolhem os ombros e seguem seu caminho. Vislumbra-se uma rua, cheia de portas. Umas estão completamente abertas, essas são as preferidas das pessoas não conseguem evitar lá entrar. Não ficam por muito tempo, mas entram. Depois há aquelas portas que estão semi-abertas, em que não entra tanta gente, só mesmo quem sente curiosidade em saber o que se encontra do outro lado. Há as portas que estão completamente fechadas, essas por mais que as pessoas tentem entrar não conseguem. Abanam, forçam a entrada, mas não conseguem. Desistem após algum tempo e avançam para as portas seguintes, acabando muitas vezes por entrar nas que estão completamente abertas. Não é de admirar tal comportamento, dá menos trabalho uma porta aberta do que uma porta fechada. Cada pessoa que passa escolhe a porta que quer entrar. Se for alguém paciente, escolherá a porta fechada. Sabe que com a preserverança necessária conseguirá abri-la, é tudo uma questão de saber esperar. Alguém que não sabe esperar, fica impaciente, se desespera facilmente escolhe logo a porta aberta, que é a que menos trabalho lhe dará, é só entrar, não se preocupa minimamente com o que vai encontrar do outro lado, não tem expectativas, sonhos. Os que se encontram no meio termo, que não têm a coragem de lutar pela porta completamente fechada, mas também não querem uma porta completamente aberta, optam pela porta meio aberta. Sentem que do outro lado só poderá estar algo no meio termo, nem muito aberto, nem demasiado fechado. Algo na proporção da sua ousadia. E a porta encostada? Que se encontra por detrás da porta encostada? Quem pára em frente a uma porta encostada? Pára aquele que tem no coração a esperança de que uma porta encostada é mais encorajador que uma porta fechada, aquele que sabe que por detrás de uma porta aberta encontrará quiçá já mais gente que tenha entrado antes de si, a porta meia aberta, não lhe causa fascínio nenhum. Nem é fechada, nem é aberta. Essa pessoa não gosta de meio termos. Na porta encostada consegue vislumbrar um ar de mistério, de sedução. Quem deixa uma porta encostada? De tal forma que quem olha para ela parece fechada. Mas o olhar de alguém puro de sentimentos irá ser atraído pela luz que se vislumbra dessa porta. Acabará por parar. Mais dia menos dia. Mais ano menos ano. E que se encontra por detrás dessa porta perguntam vocês ávidos de curiosidade. Encontro - me eu, respondo-vos. Só alguém suficientemente atento verá a luz da porta entreaberta que deixei, só alguém nobre de sentimentos terá a coragem de abrir a porta. Esse alguém saberá que se a deixei entreaberta foi porque não me fechei completamente cá dentro. Mas também não a deixei aberta apenas porque está á espera da pessoa certa para entrar. Alguém que não se deixe desmotivar pelo aparente ar de estar fechado, alguém destemido o bastante para não se deixar desencorajar pelo aspecto da porta em questão. Sei que essa pessoa existe. Por isso vou deixar a porta entreaberta para que a possa encontrar. Serei paciente. Tenho-o sido. Afinal a minha porta distingue-se das demais. Nela estou eu. É minha. Nunca estará completamente fechada, nem completamente aberta para que apenas os nobres de sentimentos a possa trespassar. Está encostada para os amigos que entraram e já cá moram comigo. Está encostada para a família que me completa. Está encostada para que essas pessoas possam entrar e sair quando quiserem, para procurarem eles também as portas onde querem entrar. A minha portá irá apenas se fechar completamente no dia em que perder a esperança. Nesse dia então a fecharei de vez, deitarei fora a chave. Até lá continuará encostada. Bela"

Wednesday, January 20, 2010

Coração

Mais um texto que escrevi para um desafio....

"Olho para dentro de mim. Já não vejo a alegria espontânea de outrora, esfumou-se no tempo. Não reconheço este ser que habita em mim, toma controlo das minhas emoções, faz-me ter atitudes que jurara a mim mesma nunca ter. Uma tristeza me consome, olhar vago e sem brilho é assim que vejo o meu. Muitas vezes me questiono porque me sinto assim, como que não pertencendo a lugar algum, como que não pertencendo a ninguém. Sozinha e ao mesmo tempo acompanhada. Nada consegue preencher o vazio que se apoderou de mim. Não controlo as emoções, ora num momento estou alegre,feliz, ora no outro sou capaz de verter lágrimas por dias seguidos. Um nó na garganta, coração pesado. Há momentos que julgo existirem duas eus. Elas lutam entre si, controlam-se, magoam-se. De que me queixo eu? de tudo e de nada. Que me faz falta perguntam voçês? Faz - me falta tudo e não me faz falta nada. Faz me falta alguém para me tomar em seus braços , para me amar incondicionalmente e fazer-me esquecer todas estas inquietudes. Faz-me falta aquele abraço no momento certo, aquele carinho, aquele telefonema ao fim de um dia de trabalho exaustivo, falta - me o aconhego durante a noite, falta - me o amparo durante o dia , falta - me um beijo daqueles de nos deixar sem ar, falta - me alguém á minha espera, falta - me a minha alegria. Não serão já demasiadas coisas a faltar? TU fazes - me falta. Bela"

Monday, January 11, 2010

Momento: a duas vozes (parte VIX)


ELE

Sentia -me inquieto. Sabia que uma decisão precisava de ser tomada, mas sentia-me completamente amedrontado perante o facto de a ter que tomar. Olhei para Marylin, estavamos ambos no sofá, ela deitada, sua cabeça repousando nas minhas pernas. Que delicia era olhar para ela assim. Todos os dias agradecia o facto de as nossas vidas se terem cruzado. Não pode deixar de sentir uma angústia latente com receio do que a vida nos reservava. Desde a morte de Marina que fugia de todas as situações em que pudesse voltar a ficar emocionalmente dependente de alguém. Mas destas coisas não se pode fugir não é? Quando menos esperamos a teia encontra-se tecida e de tal forma que não nos conseguimos soltar. Tinha medo, muito medo de a perder. Deve acontecer a toda a gente que perde alguém que ama, este medo incontrolável de que venha a amar novamente. E a vida lhe roube essa pessoa. Terrível mesmo. Tentei afastar as nuvens negras que teimavam parar sobre nós. Por momentos meu pensamento foi até Mariana. Mariana doce e querida, amiga incondicional, não merecia partir tão cedo. Sentia saudades dela, um tipo de saudades que nunca iria saciar novamente. Amava ambas, ambas faziam parte de mim. Mas ao meu lado neste momento tinha Marylin, e eu tinha que pensar no presente e não viver no passado. Nunca esqueceria Mariana, nunca mesmo, mas tinha chegado a altura de seguir em frente. Tinha mesmo. E eu estava disposto a seguir.
O telefone tocou interromependo os meus pensamentos. Olhei para o visor. Era a mãe de Mariana. Marylin acordou com o barulho do telemóvel. Levantou-se esperguiçando-se, estava com o cabelo todo despenteado, parecia uma criança travessa. Sorri, enquanto atendia o telefone.
- Olá Ana como está? - saudei mal atendi o telefone
- Está tudo bem Helder. E contigo também?
- Sim tudo em ordem. Estava mesmo a pensar ligar-lhe. Queria confirmar como é do próximo fim de semana, posso ir buscar a menina como combinado?
- Era mesmo por isso que queria falar contigo. Eu e o Pedro temos algo combinado para o fim de semana, queria saber se não te importas de vir buscar a menina antes na sexta, dava-nos mais jeito assim,
- Não há problema, sexta á noite, vou buscá-la então. Como está a minha pequena?
- Neste momento já dorme, mas está bem. Já vai balbuciando algumas palavras. Já diz mamã....
Senti uma pontada forte no peito. Não concordava com o facto de Ana obrigadar a menina chamá-la de mamã. Já tinhamos discutido o assunto várias vezes, Sofia tinha mãe, não fazia sentido chamar mamã á Avó. Eu não concordava, mas pelos vistos o que eu achava não interessava, pois Ana tinha seguido com a sua intenção avante. Fingi que não tinha percebido.
- Estamos combinados então, sexta aí estarei. Prepare o saquinho dela, provavelmente iremos dar um passeio também.
- Mas vê por onde andas com a menina, ela tem horários rigorosos para serem cumpridos, não quero que alteres o dia -a-dia dela, senão depois vai custar a entrar no ritmo novamente.
- Não se preocupe Ana, eu sei o que faço. Vemo-nos sexta então.
- Até sexta
Desliguei. Olhei para Marylin que fingia não ter ouvido a conversa. Via-a brincar com o fecho da almofada, ora fechava, ora abria. Já conhecia estes sintomas. Ela fazia isto sempre que algo a preocupava ou deixava agoniada.
- Que se passa? - perguntei enquanto a puxava para perto de mim. Encostou sua cabeça no meu ombro, ficou calada por uns segundos, eu sentindo que ela queria dizer algo, mas estava a medir as palavras.
- Hmmm, não pude deixar de ouvir a conversa. Vais ter a menina este fim de semana?
- Sim. Este fim de semana é meu.
Tornou a abrir e a fechar o fecho da almofada. Estava inquieta denotei pelo seu comportamento.
- Helder, eu... olha... tu por acaso esqueceste-te que tinhamos reservas para passar o fim de semana fora?
Olhei para ela, sorri levemente.
- Achas que me ia esquecer disso?
- Mas e a menina? - perguntou, seus olhos incrédulos pousados em mim.
- A menina vai conosco claro. Já liguei para o hotel e pedi para alterar a nossa reserva. Vão incluir um berço no quarto. Não te importas pois não?
Sua expressão denotava incredulidade. Senti que a consegui surpreender totalmente. Por momentos cheguei a recear que não tivesse gostado das alterações nos planos, se bem que não tinha havido alterações eu é que tinha ocultado alguns factos. Abraçou-me, deu-me um beijo repleto de emoção.
- Era o que eu mais queria! Conhecer a tua menina!
- E vais conhecer claro! Marylin, tu e eu estamos juntos, para o que der e vier. Sofia faz parte da minha vida. Por isso quero que as duas mulheres mais importantes da minha vida se conheçam, comecem a gostar uma da outra. Apercebi-me que quando mais cedo fôr melhor. Sofia é pequena ainda, terá mais facilidade em lidar agora com a situação do que quando fôr mais velhinha.
- É isto mesmo que queres?
- É isto que quero. 100% certo do que estou a fazer.
- E se ela não gostar de mim?
- Como poderia ela não gostar de ti? Toda a gente gosta de ti! Ela vai adorar-te vais ver.
Afaguei seus cabelos, enquanto a encostava a mim. Senti o seu coração bater forte. Ambos estavamos em sintonia do que nos esperava. Para o bem e para o mal, os dados estavam lançados. Agora era só deixar o destino seguir seu curso.

Tuesday, January 5, 2010

Quando era menina...


"Quando era menina imaginava que quando crescesse me ia tornar uma bela mulher. Olhava para as minhas bonecas, as minhas barbies, lindas, perfeitas. Imaginava que no futuro como que por algum passo de mágica ou assim eu também pudesse ter uma beleza igualmente perfeita. Deliciava me com as suas curvas perfeitas, o seu sorriso que mostrava sempre uns dentes perfeitos, os cabelos lindos, compridos e lisos. Para mim aquelas bonecas eram a personalização da beleza a que eu aspirava. Conforme fui crescendo, fui vendo as coisas com outros olhos. Primeiro fisicamente nunca aproximei nem de perto nem de longe da beleza que almejava. Fui ficando mais atenta ao que se passava ao meu redor, fui constatando que afinal de contas nem sempre beleza era significado de felicidade. Olhava as meninas que eu achava sempre mais bonitas que eu, olhava para o seu interior e ficava triste. Era esse o preço de ser bonita? Ser-se frio, mau, invejoso? Comecei a entender que a verdadeira beleza está nos gestos mais pequenos que temos. Naquele abraço que damos, naquele beijo inesperado, naquele sorriso rasgado que nos recebe. A beleza está em todos os momentos que somos iguais a nós próprios, que somos fieis aos princípios pelos quais nos regemos e não pela mera aparência física. Não sou bonita. Quer dizer sou, sou do ponto de vista que sou bonita por dentro. Sou capaz de mostrar sentimentos, cativar sorrisos, preservar amizades. Sei que a minha presença na vida de algumas pessoas que me são próximas é importante. E só de saber isso sinto me a pessoa mais bela do mundo. Não consegui a beleza que desejava quando criança, aliás tornei me mesmo o oposto daquela ideologia. Mas se me sinto desiludida, perguntam vocês? Não. A beleza ás vezes tem um preço demasiado alto. Olhando para algumas pessoas que conheço que são fisicamente belas, noto que no fundo não conquistaram a felicidade que queriam. A beleza realmente é o que cativa á primeira vista, mas se não tiver algo por trás dessa beleza, tudo o resto cai por terra. Não se é bonito para sempre. Mas a beleza que vem de dentro essa sim é nossa, essa ninguém nos rouba. Pode por vezes ficar ofuscada, quiçá até meia escondida, mas permanece sempre. Bela"

Minha contribuição para o desafio deste mês da Fábrica de Letras
Foto retirada do site: corbis.com