Sunday, May 2, 2010

Momento: a duas vozes (parte XXI)


ELE


Chamei nomes a mim mesmo. Puxei os cabelos de tanta raiva contida. Porque simplesmente me acorvadei? Regressei a casa em transe. Não fui buscar a minha filha, não liguei à Ana, nada. Aquele silêncio em casa matava-me lentamente. Atirei-me para a cama, escondi meu rosto no travesseiro. Senti-me um palhaço, actor num circo qualquer, que as pessoas iriam se rir das atitudes tristes. O orgulho é a pior arma num homem não é? Por orgulho já se matou, já se perderam amores, vidas destruídas. E eu tinha sido orgulhoso. Ciumento. O Oposto do que sempre julguei ser. Não me reconheci. O Helder de antigamente nunca se deixaria intimidar por um outro qualquer. O Helder de antigamente teria ido falar com ela, abraçá-la, beijá-la, não se importando com quem estivesse presentes. Onde estava esse Helder agora? O meu olhar pousou no candeeiro do quarto. Quantas vezes não estivemos deitados naquela mesma posição, em conversas que duravam a noite toda? Tinha sido naquela cama a nossa primeira noite de amor, a noite que lhe prometi que tomaria conta dela para todo o sempre. Ali jurámos juras de amor, trocámos caricias, exploramos nossos corpos nunca saciados da presença um do outro? Levantei-me zangado, desfiz em segundos a cama, arranquei os lençóis que ainda tinham o cheiro do seu corpo. Prostrei-me no chão. Pequeno. Magoado. Algo chamou a minha atenção. No chão por baixo da minha almofada um papel. Era uma carta. Dela. Meu coração quase parou. Mesmo longe não parava de me surpreender. Desdobrei o papel, nervoso, as minhas tremendo. E li:

"Helder,

Se estás a ler esta carta é sinal de que estarei a km de distância de ti. Quis o destino, a vida, ou quisemos nós que isto acontecesse. Não penses de forma alguma que terá sido algo premeditado, não o foi. Fiquei tão surpresa quanto tu com o curso que a minha vida tomou. Não te peço que esperes por mim, nunca me atreveria. Lamento que não me tenhas deixado explicar, partilhar contigo uma parte de mim que ainda não me tinha atrevido a contar-te. Não espero que me perdoes. Já o deveria ter feito quando partilhas-te a tua vida comigo, a história de Mariana, a existência de Sofia. Esperei sempre pelo momento certo, por aquele momento em que pudesse realmente abrir o meu coração contigo. Tentei, juro que tentei. Tantas vezes. Mas nunca senti as forças necessárias para o fazer, não porque não confiasse em ti, mas porque não era algo bonito de contar. Todos temos fantasmas que nos atormentam. Os meus são bem reais. Nunca te questionas-te o facto de ser uma pessoa tão isolada, tão difícil de conquistar a confiança? isso não nasceu comigo, foi algo que a vida me obrigou a desenvolver. Não espero que agora a nossa vida retome o ponto de partida em que estavámos, porque temo que tenhamos avançado o ponto do não retorno. Encontrei em ti e em Sofia a família que nunca tive, sonhei para nós sonhos que agora me parece que nunca tive direito a sonhá-los. Esta não é uma carta de despedida, é apenas um até já, caso o destino tenha reservado para nós um encontro no futuro. Espero que sim, não depende dele apenas, depende de ti e de mim. Qualquer que seja a tua escolha, respeitá-la-ei. Amo-te demasiado para não permitir que sejas feliz. Amor é desejarmos a felicidade de alguém, mesmo que seja longe de nós. Se tiveres que ser feliz sem mim, eu tentarei ser feliz sem ti. Espero ver-te em breve,


Marylin"


Por momentos deixei-me estar ali sentado no chão, segurando a carta na mão. Li e reli-a sem conta. Peguei no telemóvel e escrevi uma mensagem. Uma palavra apenas bastava. "AMO-TE. Esperarei por ti!"

Autoria: Lcarmo (Bela)

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4 comments:

Libelinha☆ said...

Lindo!... Espero ansiosa o próximo capitulo!...

Beijinhos ;P

Johnny said...

Já está a encarrilar, mas também podia ter feito mais... só uma mensagem!?

Poetic Girl said...

Libelinha: Ainda tenho que pensar no que se vai passar a seguir, tomou um rumo diferente ao incialmente traçado! bjs

Johnny: Pois podia, vamos ver que irá suceder a seguir! bjs

Brown Eyes said...

O amor é lindo não é? Pena que muita gente não saiba como pode ser e fazer feliz.
Beijinhos