Saturday, November 21, 2009

Momento: a duas vozes (Parte II)

ELA

"Fugi. Covardemente fugi. Tenho este dom sempre que a vida me sorri eu fujo na direcção oposta. Não o faço prepositadamente, é algo de certa forma inconsciente que toma conta de mim, quando me apercebo já estou a fugir para o mais longe possível. O pior é que agora me sinto mal. Ele foi querido. Há muito tempo um homem não me tratava com tanta delicadeza. Adorei sentir seus braços, adorei sentir o calor do seu corpo junto ao meu, o seu perfume me envolvendo. Agarrei nas minhas coisas e fugi. Mal me despedi das minhas acompanhantes que ficaram a olhar para mim surpresas. Eu não podia ficar, não podia. Era mais forte do que eu. Senti o ar fresco da noite. Respirei fundo, senti-me melhor. Sentei me nas escadas exteriores que davam acesso á discoteca. "Sente-se bem menina?" perguntou me o segurança. Sim estou bem, não estou? Fisicamente estava, psicologicamente nem por isso. Meu coração batia descompassado, minhas mãos tremiam. Suores frios, seguidos de uma sensação de calor inebriante me invadiam. Fiquei ali por momentos, momentos que me pareceram horas. As pessoas que passavam por mim olhavam me de soslaio. Possivelmente pensavam que estaria a me recompôr do abuso da bebida. Levantei me. Decidi me a voltar. Subi novamente as escadas que me levariam novamente para junto dele. Parei. O segurança vendo a minha hesitação perguntou me "Quer entrar novamente?". "Quero, hmmm, quer dizer, não sei.... talvez seja melhor não. Não quero." Virei lhe costas. Dirigi me a passo apressado para o carro. Senti-o vir atrás de mim, precoupado, com o semblante carregado "Quer que chame alguém? Não me parece estar em condições de conduzir". "Não obrigada" respondi "eu só vou descansar um bocado no carro, obrigada pela preocupação". Entrei no carro. Escondi meu rosto nas mãos e chorei. Chorei por mim, chorei por ele, chorei pelas minhas mágoas que me impossibilitavam de ser novamente feliz. Desejei poder controlar estes sentimentos que se apoderavam de mim e que me faziam afastar as pessoas de mim. Desejei ser mais forte, desejei naqueles momentos tanta coisa que me sentia sufocar dentro de mim mesma. Pensei nele, no seu sorriso, a sua expressão de desânimo quando me afastei dele. Covardemente fugi. E agora não havia volta atrás. E se nunca mais o visse? E se tivesse desperdiçado uma opurtunidade única? Nem sempre a vida nos presenteia com encontros como este. Tinha sido uma noite mágica. Sem dúvida marcada pelo seu aparecimento, pelo seu convite para dançar. Obviamente que senti uma empatia, então porquê fugir? Porquê? Liguei o carro, tinha que sair dali, para bem longe dali... ansiava pelo sossego do meu quarto, ansiava por me enroscar na minha cama, ansiava por acalmar estes fantasmas dentro de mim, que invadiam todo o meu ser, toda a minha mente. Ansiava, Soluçei.... fechei os olhos por segundos e não vi o carro que veio em minha direcção."

autoria: Lcarmo

No comments: