Saturday, November 21, 2009

Momento: a duas vozes (Parte IV)

ELA

"Aquela foi a primeira de muitas noites. A sua presença tornou-se um hábito na minha vida. Todos os dias conseguia me surpreender de qualquer forma, ora era uma mensagem, ora era um telefonema inesperado. Enchia me de atenções e tenho que admitir que eu me sentia lisonjeada. O meu coração batia mais forte de cada vez que o via, era uma sucessão de "borboletas na barriga" sem fim, chegando até a ser incomodo enquanto o meu coração não se acalmasse. Sentia me uma adoslecente na sua presença. Sentia me outra pessoa que não era eu. Por vezes ao olhar me no espelho não reconhecia os olhos brilhantes, o sorriso rasgado. Estaria eu irremediavalmente apaixonada? Só esse pensamento me causava um certo desconforto pois sentia me insegura em relação ao sentimentos dele. Se por um lado era o mais estremoso possível, por vezes, sentia-o distante, evasivo, como se entre nós existisse um muro que ainda não tinha sido totalmente destruído. Nunca em momento algum me tocou, ou mostrou intenções de fazer. Aliás eu sentia o seu afastamento físico a cada dia que passava. Se no inicio ainda me tocava na mão, brincava com meu cabelo, me dava abraços espontâneos, aos poucos e poucos isso foi desaparecendo. Estas atitudes faziam me sentir insegura, como se estivesse a tentar me equilibrar numa corda, ora inclinando para cá, ora inclinando para lá. As suas mudanças de humor faziam-me recear por vezes até onde esta situação iria. Estaria eu, iludida, vendo o que não estaria ali para ver? Mas então qual a razão de tanta atenção, tantos mimos, que faziam o meu coração disparar, faziam me sentir coisas que pensei não mais sentir? Em todos os seus gestos tentava ler nas entrelinhas. Teria eu a coragem suficiente de dar o primeiro passo? E o medo da rejeição, que faria eu caso ele me rejeitasse? Nunca soube lidar muito bem com nenhuma forma de rejeição.
Por vezes estavamos demasiados próximos fisicamente, tão próximos que facilmente meus lábios encontrariam os dele. Numa sala de cinema, quando me dava a mão, tecia caricias, entrelaçando os seus dedos nos meus. Quando saíamos para jantar, fazia questão de colocar um braço sempre por cima do meu ombro. Nas nossas saídas para dançar, sentia a sua presença física de tal forma que chegava a doer. Um gesto mais sensual, um toque mais fora do lugar e eu ansiava por aquele momento mágico que tardava em chegar. Quanto mais tempo teria eu que aguardar, para meus lábios poderem finalmente encontrar o caminho para os dele, podendo assim saborear aquele momento em pleno? Quanto tempo mais?"

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